De tempos em tempos, e entre um sumiço e outro, Tiago Iorc, 36, resolve criar algo novo. Dessa vez não foi diferente e se quer demorou tanto. Com uma distância de três anos de Reconstrução, último álbum de estúdio do cantor e um ano do single Masculinidade, ele "ressurge". Nesta quinta-feira (3), Tiago apresenta daramô, seu sexto álbum.
Por videochamada o músico, que está em turnê intimista pela Europa, se coloca aberto para percorrer os mais variados assuntos que envolvem seu nome.
Além dos shows e do novo trabalho, ele comenta a relação com a namorada Duda Rodrigues, que assina 6 das 10 músicas de daramô, e claro, sua fama arrebatadora de low profile (termo em inglês designado a quem posta pouco ou quase nada nas redes sociais).
"Essa coisa da hiper exposição e disponibilidade corrompe um pouco o meu processo criativo. Talvez pareça que sou muito fora da curva, mas talvez só seja normal", diz ele em conversa com a GQ Brasil. "Acho que todo mundo cansa, mas quero estar mais presente e encontrar uma forma que isso não me corrompa, sabe? Um meio termo", sugere na sequência.
O dilema com o meio digital já rendeu a ele uma música vencedora do Grammy Latino. Lançada em 2019, Desconstrução traduz o perigo entre saúde mental e redes sociais, e foi feita "quase como uma psicografia", segundo o cantor.
Tiago Iorc diz que é o tipo de situação que acontece algumas vezes quando compõe. "Me sinto um canal que recebe mensagens e me comunico com coisas que estão para além do que eu compreendo dessa vida. Gosto de manter essa relação com o divino."
De volta para o mundo material, daramô foge um pouco – ou talvez bastante – do que Iorc apresentou nos trabalhos anteriores. Agora, ele firma de vez o compromisso com a vertente romântica e explora sua brasilidade antes camuflada.
"O daramô escrito assim traz uma característica de carinho e afetividade. Comer algumas sílabas ou juntar palavras, é muito do coloquialismo da língua brasileira – e acho lindo. Uma grande virtude do povo brasileiro. Quis traduzir um pouquinho desse afeto que eu aprendi muito convivendo com ela", confessa sobre a influência da terapeuta holística e escritora mineira.
Juntos desde o final de 2019, o namoro se firmou nos anos de pandemia, período em que os dois passaram a se conhecer melhor morando juntos. "Meu processo criativo sempre foi muito solitário. Gostava de ficar recluso com os meus pensamentos e ela foi a primeira pessoa que quebrou isso", comenta. "Foi uma troca que começou meio tímida. Tem bastante da energia e do toque dela nas músicas".
Feito na Bahia
Tiago Iorc começou a cantar e compor aos 20 anos apenas em inglês. Tal repertório e influência foi resultado de anos morando com a família no exterior (Estados Unidos e Reino Unido), apesar de ter nascido em Brasília.
"Esse é o meu álbum mais brasileiro", define o músico, que pela primeira vez apresenta sua forte relação com a Bahia. Iorc conta que sente uma espécie de encaixe com a cultura e o clima da região. E ele tem um palpite sobre o motivo da ligação.
"Minha mãe conta que eu fui feito na Bahia. Ela tem certeza que engravidou lá porque depois os meus pais brigaram e ficaram meio azedos um com o outro [risos]. Então foi o único lugar que rolou um romance".
Gravado inteiramente no litoral nordestino, daramô se distancia da sonoridade que marcou o início da carreira do artista – um folk americano com traços de John Mayer – e demorou um pouco mais de um mês para sair do papel (as gravações aconteceram em sete dias em uma casa alugada na Bahia).
Tiago Iorc está pronto para dar um passo para frente, e sem medo de olhar para trás. Ele traz pela primeira vez também o violão com cordas de nylon. "Sempre toquei com corda de aço, então esse não é um lugar de domínio ou conforto para mim", admite. A beleza, no entanto, está no desconforto.