Plataformas e PL das Fake News
"...Chegamos a um ponto em que há muito mais chance de você assistir a coisas que fazem sucesso e que conseguem reverberação emocional do que aquelas que são verdadeiras."
Essa frase foi dita pela americana Renée DiResta, ironicamente, durante uma palestra para empregados do Google. DiResta já foi executiva de empresas do Vale do Silício e hoje se dedica ao estudo dos abusos cometidos pelas tecnologias da informação. Aliás, em linguagem popular, ela analisa, em última forma, os malefícios provocados pelos algoritmos usados pelas empresas de redes sociais digitais. Essa declaração dela foi retirada do livro “A Máquina do Caos”, escrito pelo jornalista Max Fisher, uma publicação que recomendo muito a quem se interessa por entender as questões envolvendo as Redes Sociais Digitais, discurso de ódio, polarização.
Aqui no Brasil vivemos a discussão em torno da votação do projeto de lei que pretende regular as redes, o PL 2630/2020, PL das Fake News, que deve entrar em votação nesta semana. Já houve muita reverberação em torno da nova legislação. As Empresas de Redes Sociais Digitais evocaram a liberdade de expressão e ainda a alegação de que são apenas plataformas onde pessoas expõem suas ideias e que não poderiam ser responsabilizadas pelo que é publicado.
Esses argumentos são falácias. Não podem ser consideradom dentro do escopo Liberdade de Expressão, conteúdos de ódio e/ou mentirosos. Eles, normalmente, não representam opiniões, mas versões falsas de algum assunto. Se um jornal ou quem quer que seja divulga uma informação falsa ou ofende a honra de alguém está sujeito a processo. Cabe aqui entrar no ponto de como essas plataformas lidam com os conteúdos ali publicados.
As Redes Sociais lucram com o que publicamos e, especialmente, com o modo como esse conteúdo se espalha. Os algoritmos - programas que organizam e divulgam as publicações nas plataformas - atuam para dar mais espaço aos conteúdos capazes de causar mais controvérsia. E esses conteúdos, normalmente, são aqueles que provocam reações emocionais. Então, as Redes lucram mais com a propagação de conteúdos de ódio. Portanto, devem ser responsabilizados pelos conteúdos publicados em suas plataformas já que, em última análise, se beneficiam economicamente com eles.
Uma outra questão que envolve o PL é a que trata do pagamento às empresas jornalísticas do conteúdo delas exibido nas redes. Essa questão começou a se espalhar com força na semana passada, quando os argumentos da liberdade de expressão e da isenção das plataformas já não encontravam muito eco nas discussões. A questão agora gira em torno da seguinte ideia: as plataformas passariam a pagar as empresas de conteúdo pelo que delas fosse publicado nas redes e que isso fortaleceria as grandes empresas de mídia e atingiria em cheio a mídia alternativa.
Esse é um ponto ainda polêmico e que merece avaliação: As Redes Sociais digitais desde sempre vivem do que publicamos nelas. Elas não gastam um tostão com o nosso trabalho. Somos nós, com nossas publicações, que as ajudamos a entender comportamentos sociais e a vender estudos sobre o tema. Além de uma publicidade que vai ao encontro do desejo do usuário (eu começo a pesquisar sobre viagem e começa a aparecer uma série de anúncios sobre hotéis e pacotes). As notícias e conteúdos produzidos pelas empresas também entram nesse jogo e ajudam as redes a, em última forma, ganhar dinheiro. Se olharmos o Google, quando pesquisamos sobre qualquer assunto aparece uma aba com refinamentos que podemos fazer. Um dos itens é NOTÍCIAS. Então, se elas ganham dinheiro assim é justo que remunerem quem de forma profissional contrata gente para produzir conteúdo.
Sobre a questão das mídias alternativas é difícil avaliar como serão atingidas ou se realmente serão atingidas. Uma coisa, porém, é certa: sempre houve mídia alternativa e elas sempre operaram em todos os formatos. Rádios e TVs piratas, jornais sindicais ou políticos. Etc... - muitas vezes perseguidas politicamente - e essas formas sempre conseguiram sobreviver. Não creio que vá ser diferente agora, mas como disse é algo que não dá para prever.