O SUSPEITO DIAGNÓSTICO DO PRESIDENTE

Jair Bolsonaro recentemente veio a público informar que está com COVID-19. Se isto for verdade, acredito que todos devem desejar ao presidente sua pronta recuperação.

Existe, porém, chance real de isto ser uma grande cortina de fumaça. Vamos ao raciocínio:

COMITIVA CONTAMINADA

Em março de 2020 o presidente foi aos EUA visitar o presidente Donald Trump. Das 45 pessoas que faziam parte do grupo e que viajaram juntas, ao menos 23 testaram positivo ao retorno após algumas manifestações de sintomas durante a viagem. Existe, portanto, grandes chaces do presidente ter, neste momento, sido infectado e sido assintomático.

Na ocasião, Carlos Bolsonaro, filho do presidente, comentou para a mídia que o pai havia sido infectado na viagem e que se sentia bem. Esta afirmação, entretanto, foi logo depois desmentida pelo próprio Carlos Bolsonaro.

EXAMES ESCONDIDOS

Em maio de 2020 o presidente havia informado que já teria feito dois exames e que ambos haviam sido negativos para coronavírus. Apenas após o jornal O Estado de São Paulo ganhar na justiça o direito de acessar os exames é que estes foram apresentados.

Vale notar que ambos os exames negativos estavam em nome de outras pessoas. O presidente alegou que, por segurança, usou pseudônimos.

EXAME ESCANCARADO

Em julho de 2020 o presidente informa estar infectado, mesmo antes do exame positivo, feito em seu próprio nome, ser prontamente apresentado.

Está mudança de comportamento sucinta a pergunta sobre por que motivo os primeiros supostos exames foram ocultados, e apenas por decisão judicial mostrados, e o último foi publicamente exibido e alardeado?

FALTA DE CUIDADO

O presidente desde o início da pandemia vem desdenhando o problema e seus impactos, se negando a utilizar máscaras, fomentando remédios inócuos e não seguindo a orientação de distanciamento social.

Seria esta exposição decorrente da crença numa suposta imunização decorrente de uma possível infecção superada ainda em março?

CLOROQUINA DO PAU OCO

Mesmo após a OMS e todos os países desenvolvidos já terem descartado o uso da cloroquina como remédio para tratamento contra COVID-19, o presidente (que é totalmente leito no assunto) insiste na substância. Inclusive chegando a dizer que após uma única dose do remédio, já sentia-se muito melhor e sem sintomas.

Mesmo que houvesse um remédio eficaz contra COVID-19, este tratamento demandaria de mais do que apenas uma única dose e mais do que um único dia para promover a melhora relatada pelo presidente.

Seria a exibição desta melhora milagrosa parte de uma propaganda para tentar vender a cloroquina como solução? Ou talvez uma tentativa de fazer parte das pessoas sentirem-se seguras para reformar as atividades?

BAIXANDO A BOLA

Desde a prisão de Fabrício Queiroz o presidente baixou bastante o tom beligerante. Os rompantes diários contra impressa, STF e congresso sumiram das manchetes. Seria esta mudança de tom receio do que pode eventualmente ser revelado por Queiroz, sua esposa ou Wassef?

Se o presidente for capaz de abafar mais este escândalo, ele retomará o habitual comportamento?

SEMANA COMPLICADA E MUDANÇA DE FOCO

Na mesma semana em que o presidente apresentou o diagnóstico positivo, seu filho Flávio Bolsonaro depôs no ministério público sobre a investigação das rachadinhas, o ministro-interino da saúde iria ao congresso responder questões sobre a imposição do uso da cloroquina e o Facebook desmantelou uma rede de contas falsas diretamente ligadas ao gabinete do ódio.

Ao mesmo tempo as investigações sobre fake news seguem, Wassef reitera que responde pelo clã Bolsonaro, os esquemas envolvendo a esposa de Wassef ganham notoriedade, as investigações sobre associação do presidente com milícias caminham a passos largos e ainda temos o forte ruído do caos no ministério da educação.

Seria um momento bastante oportuno para tirar o foco dos escândalos em torno do presidente e manter a atenção na questão da saúde pessoal do próprio e dos assessores e familiares em seu entorno. Isto daria tempo para os ocupantes do Palácio do Planalto respirarem e articularem melhores respostas aos desafios que se apresentam.

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