Consumo alimentar no Brasil e o desafio da alimentação saudável
As mudanças no padrão de consumo de alimentos ocorreram em vários estágios, desde o início da humanidade.
Tanto a fome quanto a obesidade ocorrem por diversas formas, em termos de falta de nutrientes, vitaminas e proteínas necessárias para a função do corpo humano. Justamente por envolver uma série de temas importantes para a sobrevivência humana esse tema é de grande importância para o mundo em geral.
Entre os fatores que alteram os padrões de consumo foram identificadas a urbanização, a globalização e a renda.
Os resultados indicam que uma renda mais elevada não necessariamente contribui para o consumo saudável de alimentos, e que, embora a globalização e a urbanização possam distribuir uma grande variedade de itens alimentares para a sociedade, uma vida mais saudável não é garantida.
A industrialização, sozinha, não garante uma dieta adequada. Na classificação dos três alimentos mais consumidos no mundo, os cereais ficam em primeiro lugar, os vegetais em segundo, e o leite em terceiro.
No Brasil é possível que os itens mais consumidos sejam: cereais, leite e frutas. Além disso, uma análise visual mostra que os alimentos consumidos no Brasil são mais variados do que no resto mundo, o que pode ter influenciado a conclusão de que o Brasil e o resto do mundo não são estatisticamente cointegrados nos hábitos de consumo.
A permanência na alimentação do brasileiro de vários itens alimentares como feijão, preparações a base de feijão, milho e preparações a base de milho, batata doce, abóboras, cará, quiabo, ricos em micronutrientes como vitaminas e que contêm alto teor de fibra e baixo índice glicêmico, é um aspecto muito positivo.
As fibras e o baixo índice glicêmico, que indica o aumento da glicemia no sangue após ingestão dos alimentos, são características muito favoráveis de uma alimentação, pois reduzem o colesterol e protegem quanto ao aparecimento de diabetes. Interessante que esses alimentos são mais consumidos nas faixas de menor renda e nas populações que vivem na área rural.
Os dados sobre consumo alimentar no Brasil são bem abrangentes, pois têm sido realizadas várias pesquisas de âmbito nacional que retratam a alimentação do brasileiro.
O último inquérito realizado pelo IBGE, em parceria com o Ministério da Saúde, em 2008-2009, avaliou mais de 30.000 indivíduos de todas as regiões do país. Todos os indivíduos com 10 anos ou mais dos domicílios sorteados para a pesquisa preencheram dois dias de registro de todos os itens alimentares consumidos em casa ou fora de casa.
Os dados desse inquérito permitiram distinguir as diferenças urbanas e rurais, por sexo, por faixa de idade e por regiões do Brasil.
Nas áreas rurais, as médias de consumo per capita diário foram muito maiores para arroz, feijão, batata-doce, mandioca, farinha de mandioca, manga, tangerina e peixes.
Em contraste, nas áreas urbanas, destacaram-se produtos processados e prontos para consumo como: pão, biscoitos recheados, sanduíches, salgados, pizzas, e também refrigerantes, sucos e cerveja, caracterizando uma dieta com alto teor energético.
Alimentos como doces, refrigerantes, pizzas e salgados fritos e assados são considerados menos saudáveis, pois sua ingestão leva a um grande consumo calórico.
Além disso, esses alimentos apresentam baixo teor de vitaminas e minerais necessários como cálcio, ferro e outros.
Destaca-se que o consumo desses alimentos cresce com o aumento da renda per capita da população e é mais expressivo entre os jovens.
Por outro lado, o consumo de frutas e verduras, alimentos protetores para doenças como o câncer e as cardiopatias, se reduz muito nas faixas de menor renda e também entre os mais jovens.
Um aspecto muito negativo da alimentação no Brasil é o alto consumo de açúcar e alto consumo de sal.
As pesquisas do IBGE tem mostrado que a proporção de indivíduos com ingestão de sódio acima do nível seguro foi de 89% entre os homens e de 70% entre as mulheres adultas.
Os alimentos com a maior concentração de sódio são as carnes salgadas e as processadas – presuntos, salames, salsicha, mortadela etc, os queijos e os biscoitos salgados.
Entre os adolescentes destaca-se a alta frequência de consumo de biscoitos, linguiça, salsicha, mortadela, sanduíches e salgados e os valores per capita indicam um menor consumo de feijão, saladas e verduras.
Quanto ao doce, o Brasil é o segundo maior consumidor per capita de açúcar, e as bebidas adoçadas correspondem a quase metade do consumo total de açúcar.
Refrigerantes e sucos adoçados estão presentes em quase todas as refeições e lanches realizados no Brasil.
Não há nenhuma necessidade de se beber líquidos quando nos alimentamos e que seu consumo casado – líquidos e sólidos – é, por um lado, uma estratégia de mercado e, por outro, uma necessidade biológica causada justamente pela alta concentração de sal ou de açúcar – ou os dois – nos alimentos processados.
Nos países desenvolvidos, ações visando reduzir o consumo de refrigerantes, pelo menos entre os jovens, têm sido uma das principais estratégias para redução da obesidade.
Por outro lado, as redes de fast food internacionais utilizam cada vez mais gigantescas porções de refrigerantes que, além do tamanho, são de consumo liberado.
Os alimentos consumidos fora de casa no Brasil são menos saudáveis do que os consumidos no domicílio, porém, ainda é pequena a parcela de alimentação fora do domicílio no Brasil, correspondendo a 16% das calorias diárias per capita.
Esse dado é interessante, pois indica que é na capacidade das famílias de comprar e preparar os alimentos que se organiza o consumo alimentar no Brasil.
Em outros países, como nos Estados Unidos, quase toda alimentação já é comprada em porções individuais e o ambiente doméstico pouco influencia na preparação dos mesmos.
O Brasil caminha a passos rápidos para um maior consumo fora de casa, que aumenta muito com o aumento da renda das famílias.
Deveriam ser pensadas políticas de alimentação inovadoras que auxiliassem as famílias a produzir refeições de melhor qualidade nutricional, e com isso melhorar a saúde da população.
O desafio para as políticas de saúde pública em relação a uma alimentação saudável no Brasil é enorme, dado que recém incorporamos grande parcela da população ao mundo do consumo e que suas opções aumentam todo dia.
A mobilização efetiva da população e das políticas públicas, até muito recentemente, se dava no campo de promover qualquer consumo alimentar e mitigar a fome.
Assim, as ações do sistema de saúde em relação ao tema da alimentação são ainda muito restritas e quase não existe mobilização social em prol da alimentação saudável.
Embora haja uma avidez por notícias sobre comida e alimentação, temas sempre em pauta na mídia, não conhecemos reivindicações organizadas de sindicatos, partidos ou grupos populares para melhorar a alimentação, vista cada vez mais como uma questão de opção individual.
Equipamentos públicos, particularmente os de educação e saúde, devem ser fomentadores de mudanças tanto do consumo familiar, quanto do papel que esse núcleo desempenha nessas mudanças.
O consumo de proteínas no Brasil, cuja produção costuma ser cara, é adequado.
Temos oferta de calorias mais do que suficiente para alimentar toda população e alguns produtos baratos, já de ampla produção, poderiam tirar da faixa de inadequação em nutrientes amplas parcela da população.
Por exemplo, consumir um bife de fígado duas vezes por mês tem impacto muito grande na redução de anemia, inadequação de vitamina A, vitamina B1, associada ao beribéri, vitamina B12, associada à anemia megaloblástica.
Incluir na alimentação pequenas porções de oleaginosas como castanha do Pará, amendoim e castanha de caju reduziria a alta inadequação de consumo de vitamina E.
Incluir sardinhas e outros peixes no consumo semanal reduziria muitas carências como a de vitamina D. Adicionar um copo de leite à dieta dos brasileiros reduziria em muito a inadequação no consumo de cálcio, fósforo e vitamina B2.
Adicionar no consumo diário frutas e verduras nos livraria da inadequação de vitamina C e melhoraria a adequação de cálcio, ou seja, mudanças que no Brasil são muito factíveis do ponto de vista do abastecimento.
Medidas de âmbito coletivo, como a política de enriquecimento das farinhas do Ministério da Saúde em relação ao ácido fólico e ferro, já mostraram impacto muito positivo com redução das prevalências de inadequação desses nutrientes.
Por outro lado, mudanças na forma de produção da indústria de alimentos são fundamentais. Por exemplo, as oleaginosas são, na sua maioria, apresentadas com alto teor de sal, o que é desnecessário.
Os alimentos industrializados são as principais fontes do consumo excessivo de sódio, grande parte proveniente do sal adicionado aos alimentos.
Um ponto de conflito para as políticas públicas é a visão do consumo alimentar como um ato de escolha individual entre os vários bens disponíveis.
Mesmo no Brasil já existem críticas cristalizadas sobre o papel interventor do Estado na definição do que se deve ou não fazer ou comer no Brasil.
Essas críticas vão além dos representantes da indústria de alimentos, o que já seria esperado, pela possível perda de mercados, mas conta inclusive com cientistas respeitados em suas áreas de atuação que acreditam que indivíduos devem fazer suas escolhas, mesmo as alimentares, sem nenhuma interferência.
Essa parece ser uma pequena armadilha, dado que não há grandes opções de escolha de alimentos a preços similares e, mais grave, não há como optar sem conhecer os riscos associados ao grande consumo de sal, de gordura saturada, de açúcar e poucas fibras, que caracterizam grande parte dos alimentos industrializados e de alta circulação no Brasil.
Qual seria então o papel das políticas públicas no enfrentamento da inadequação da alimentação de grande parte da população?
O que fazer quando menos de 10% da população atinge as recomendações de consumo de frutas, verduras e legumes, o consumo de fibras é 68% abaixo do recomendado e o consumo de leite também está muito aquém do recomendado?
Por outro lado, é excessivo o consumo de açúcar – foi referido por 61% da população na pesquisa do IBGE –, e a prevalência do excesso de consumo de gordura saturada (maior do que 7% do consumo de energia) é de 82%.
Quando itens isolados são analisados observa-se que os indivíduos que referem consumir, por exemplo, biscoitos recheados, salgadinhos industrializados e refrigerantes são os que também consomem mais energia, gordura saturada, menos fibras e mais sal.
Não seria possível, portanto, falar em adequação da alimentação sem tentar eliminar itens que concorrem para as altas prevalências de inadequação.
A obesidade – hoje um problema importante de saúde pública no Brasil –, se, por um lado, é fato que ela é o resultado de um consumo de energia, qualquer que seja ele, maior do que o gasto, por outro lado, alguns alimentos de ampla circulação contribuem com muitas calorias e pouquíssimos nutrientes.
Por exemplo, se retirássemos da alimentação somente as bebidas açucaradas, a inadequação em relação ao consumo de açúcar se reduziria muito e também as calorias chamadas vazias, que não se fazem acompanhar de outros nutrientes.
Essas bebidas estão disponíveis em larga escala, são muito baratas e a pergunta é: consumir produtos como as bebidas açucaradas deve ser uma opção única e exclusivamente do âmbito individual?
Populações mais informadas, como ocorre, por exemplo, na Dinamarca, optam por exigir ações do poder público, relacionadas à maior oferta de produtos saudáveis, como frutas, verduras e legumes, maior disponibilidade de tempo para produzirem refeições nutricionalmente adequadas para suas famílias, ausência de alimentos não saudáveis em creches e escolas, assim como em hospitais, afastando-se da tendência crescente de maior consumo de alimentos de conveniência.
Os dados do Brasil indicam vários caminhos para fomentar possibilidades de alimentação mais saudável, resta saber quanto tempo ainda vamos levar para estimular gestores, mídia e a população em geral a discutir e buscar ações públicas visando uma adequada alimentação saudável que possa prevenir várias doenças crônicas não transmissíveis e, particularmente, o aumento exagerado que se observa das prevalências de obesidade, particularmente entre as crianças e os jovens brasileiros.
A aquisição de alimentos no Brasil tem sofrido modificações importantes nas últimas décadas.
Fatores como urbanização, composição etária, presença de mulheres na força de trabalho e outras transformações estruturais influenciam o montante despendido e a composição da cesta de alimentos consumida por uma família, impondo novos desafios aos produtores rurais, à agroindústria, ao setor de distribuição de alimentos e ao governo.
Além disso, o aumento, ainda que tímido, do grau de instrução escolar e da renda per capita potencializam estas transformações, visto que aumentam a consciência sobre o consumo de alimentos nutritivos e com menores riscos à saúde.
Nesse cenário, é importante conhecer o novo padrão de consumo das famílias, em especial os determinantes da decisão de aquisição de alimentos.
O gasto com alimentação, apesar de perder importância nas últimas décadas, ainda é o segundo mais importante na participação das despesas das famílias, com 20,75% do total Além disso, o item alimentação é o de maior peso no orçamento para famílias da zona rural e para as de baixa renda, notadamente nas regiões Norte e Nordeste do País.
Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2002/2003, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para famílias de baixa renda (até dois salários mínimos mensais), estes gastos ainda representam 32,7% do total, ou seja, praticamente um terço das despesas totais dessas famílias (IBGE, 2004).
Em relação às variáveis que captam as diferenças regionais, a maior parte dos coeficientes é significativo, indicando que há diferenças regionais em relação à região Sudeste (default), mesmo controlando-se para as demais variáveis.
Este é um resultado importante, visto que indica que a probabilidade de aquisição de determinado produto é influenciada por fatores regionais, independente das conhecidas disparidades regionais de renda.
Por exemplo, a probabilidade de consumo de carne suína é muito maior no Sul do que nas demais regiões do País.
Da mesma forma, as variáveis Norte e Nordeste têm influência positiva na probabilidade de aquisição de produtos básicos, como arroz, feijão, farinha de mandioca, além de leite em pó e margarina.
A variável Sudeste influencia positivamente a probabilidade de consumo de pão francês e a variável Centro-Oeste tem efeito positivo para arroz e leite fluido.
Alguns resultados são surpreendentes, como o coeficiente positivo para o Nordeste no caso de carne bovina de primeira, um resultado não esperado dado que o consumo médio nessa região é menor do que no Sudeste.
Entretanto, como o efeito da renda é positivo para esse produto, a conclusão parece ser que, controlado para a renda, o consumidor do Nordeste tem maior probabilidade de adquirir, para o consumo domiciliar, carne bovina de primeira do que o consumidor do Sudeste.
A maior freqüência de alimentação fora do domicílio no Sudeste pode explicar também parte deste resultado.
No caso das variáveis que procuram captar o efeito do nível educacional do responsável pelo domicílio na probabilidade de aquisição, grande parte dos coeficientes das variáveis segundo grau incompleto e segundo grau completo não é significativo.
Isso indica que há pouca diferença na probabilidade de aquisição para domicílios com responsáveis com primeiro grau completo e segundo grau, completo ou não.
Entretanto, os coeficientes para as variáveis analfabeto, superior incompleto e superior completo são, na maior parte, significativos, sendo que os sinais são, na grande parte, negativos.
No caso de responsáveis analfabetos, são observados valores positivos para açúcar, arroz, farinha de mandioca, feijão e carne bovina de segunda (este último, com coeficiente não-significativo) e negativos para os demais produtos.
No caso de variáveis indicativas de curso superior, com exceção de queijos e manteiga (este último tem coeficiente não-significativo), todos os coeficientes são negativos, indicando menores probabilidades de aquisição na comparação com lares chefiados por pessoas com apenas o primeiro grau completo.
A explicação para esse resultado pode estar na menor proporção de refeições realizadas no domicílio para aqueles com curso superior, que causaria naturalmente uma menor probabilidade de aquisição para consumo domiciliar.
Além disso, a demanda por alimentos energéticos (arroz, açúcar, farinha de mandioca, etc.) tende a ser maior para aqueles que executam trabalhos manuais, como os analfabetos e aqueles com primeiro grau incompleto, em relação aos trabalhadores com maior escolaridade.
No caso da variável que capta as diferenças entre o meio urbano e rural, os coeficientes não foram significativos apenas para o caso do frango, macarrão e carne suína.
Em relação aos sinais dos coeficientes, os resultados foram de acordo com o esperado, com valores negativos para os produtos mais energéticos (açúcar, arroz, farinha de mandioca, etc.), indicando maior probabilidade de consumo na zona rural, e valores positivos para produtos como pão francês, carne bovina, queijos, leite em pó, entre outros, cuja probabilidade de consumo é maior no meio urbano.
Na maior parte dos casos, a diferença entre os domicílios chefiados por indivíduos que se declararam amarelos ou de outras raças (que não brancos, negros ou pardos) e os domicílios chefiados por brancos foi insignificante.
No caso de negros e pardos, parece haver uma influência positiva na probabilidade de aquisição de açúcar, arroz, carne bovina de segunda, farinha de mandioca, entre outras e negativa para leite fluido, carne bovina de primeira, banana, batata, tomate e queijos.
No caso da variável mulher, que representa o fato de o responsável pelo domicílio ser do sexo feminino, a maior parte dos coeficientes é significativo e negativo, com destaque para as carnes em geral, açúcar, arroz e feijão.
No caso de leite e derivados, a influência da mulher não é significativa, com exceção de Queijos, no qual ela exerce influência positiva.
Nos casos da banana e pão francês, esta variável tem influência positiva na probabilidade de aquisição. É difícil identificar uma explicação para o comportamento desta variável.
A hipótese de que as mulheres, com maior preocupação com a saúde do que os homens, possam determinar uma alimentação mais rica em frutas e verduras no domicílio, não pôde ser testada adequadamente, pela reduzida quantidade de produtos na cesta escolhida, ou seja, não se sabe se a menor probabilidade de consumo apresentada na maior parte dos produtos da cesta significa efetivamente uma escolha de outros produtos não incluídos, como frutas e verduras.
O fato é que domicílios chefiados por mulheres têm menor probabilidade de aquisição dos produtos da cesta.
As demais variáveis, doméstica e geladeira, procuram identificar a influência da presença de empregada doméstica e refrigerador no domicílio, respectivamente, sobre a probabilidade de aquisição dos alimentos.
No caso da variável doméstica, os resultados foram o oposto do esperado. A presença de empregada doméstica no domicílio diminui a probabilidade de aquisição de feijão e carnes em geral, com exceção da carne bovina de primeira.
Para o arroz, o coeficiente dessa variável não é significativo. Apenas para batata e tomate (e alguns outros produtos, como leite e derivados, cuja expectativa era nula), os valores foram positivos.
A expectativa inicial era de que o fato de possuir empregada doméstica tornasse mais provável à realização de refeições no domicílio, já que representaria uma solução para a restrição de tempo no preparo das mesmas, pela presença de uma profissional responsável pela preparação.
A explicação pode estar no fato de que a distância entre trabalho e residência para a maior parte das pessoas impeça a realização de refeições no domicílio, mesmo para pessoas que possuam empregadas domésticas.
A influência negativa decorreria, assim, da maior probabilidade de presença de empregadas em lares onde a restrição e custo do tempo (e distância) fossem maiores.
No caso da variável geladeira, os resultados foram de acordo com o esperado, principalmente no caso do leite.
A presença de geladeira aumenta a probabilidade de aquisição de leite fluido e diminui a probabilidade do leite em pó, um resultado importante para explicar a razão de famílias mais pobres geralmente consumirem um produto relativamente mais caro como o leite em pó na presença de outro com as mesmas propriedades e bem mais barato (leite fluido).
A capacidade de conservação é um fator importante para essas famílias. A presença de geladeira no domicílio também tem efeito positivo na probabilidade de aquisição de carnes em geral, com exceção da carne suína, cujo efeito não é significativo.
O efeito positivo também é observado para queijos. Já a influência negativa é observada para produtos básicos, como arroz, feijão, farinha de mandioca e açúcar.
O que pode estar ocorrendo aí é que, controlando para as demais variáveis, a posse de geladeira permita aos domicílios substituir parte dos produtos básicos por aqueles acima citados que necessitam de refrigeração.
Considerações finais
Um estudo realizado pela EMBRAPA (Changes in food consumption pattern in Brazil and around the world), concluiu depois de se analisarem os dados da FAO referentes ao consumo de alimentos no Brasil e no resto do mundo, dada uma cesta composta por 24 itens, pode-se perceber que há algumas semelhanças entre o Brasil e o resto do mundo quanto ao consumo de alguns itens.
Essas semelhanças podem ser justificadas pela globalização, que acaba alterando drasticamente o perfil do consumo alimentar.
Com base nos estudos realizados, foi possível constatar que o consumo alimentar no Brasil e o do restante do mundo não são cointegrados, não existindo uma relação de equilíbrio no longo prazo.
Esse resultado pode sinalizar a grande diversidade presente no mundo, tanto referente à renda quanto à forma como os alimentos estão dispostos, além de outros aspectos que podem influenciar o consumo de alimentos em todo o globo.
No entanto, outros dados apurados o Brasil indicam vários caminhos para fomentar possibilidades de alimentação mais saudável, restando saber quanto tempo ainda vamos levar para estimular gestores, mídia e a população em geral a discutir e buscar ações públicas visando uma adequada alimentação saudável que possa prevenir várias doenças crônicas não transmissíveis e, particularmente, o aumento exagerado que se observa das prevalências de obesidade, particularmente entre as crianças e os jovens brasileiros.
Desejo aos meus leitores uma ótima quarta feira. Torço para que todos sejam felizes!!