10 perguntas a Hugo Esteves
Hugo Esteves concluiu a Licenciatura pré-Bolonha em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores em 2006. Iniciou a sua carreira no setor das Telecomunicações onde trabalhou mais de 10 anos, tendo passado por empresas multinacionais como a Alcatel-Lucent e a Ericsson. Durante esse percurso, trabalhou em 9 países diferentes pelo mundo fora, como Angola, Suécia, Chile, México, e França, tendo desempenhado várias funções desde engenheiro, consultor, gestor de projeto, assim como funções de liderança de equipas multidisciplinares e multinacionais, tendo inclusive trabalhado com as equipas de R&D na sede da Ericsson em Estocolmo.
Em 2016 decide fazer uma pausa na carreira profissional e decide volta a estudar. Conclui um Mestrado em Gestão de Informação pela Nova Information Management School (Nova IMS) e um International Master in Business Administration (MBA) pela Nova SBE/Católica/Massachusetts Institute of Technology (MIT) Sloan School of Management. Pelo caminho, fundou a associação sem fins lucrativos Data Science for Social Good Portugal, da qual foi co-director, movido pela paixão por Data Science, IA e pelo impacto positivo que quer ter na sociedade através da tecnologia e de parcerias para a mudança, tendo sido também consultor de estratégia de negócio de startups dos sectores da ciência e inteligência artificial.
Atualmente é o CEO & Director of Data Science da empresa que fundou, em 2020, a eikko, uma empresa tecnologia na área dos Recursos Humanos, com o propósito de transformar positivamente a experiência do recrutamento para pessoas e empresas através da fusão entre Psicologia Organizacional, em parceria com o ISCTE, e Tecnologia.
Porquê o Técnico?
Tendo sido sempre bom aluno, naquela altura não pensei em outra alternativa. Morava em Setúbal e só queria estudar na melhor faculdade de engenharia do país, nem que tivesse de ir e voltar todos os dias para Setúbal, e assim foi! Escolhi o Técnico pela sua reputação de excelência, tanto em termos de ensino como de investigação. Sempre soube que iria ser um desafio académico enorme, mas que me daria ferramentas para um futuro promissor no mundo do trabalho, e o Técnico ofereceu exatamente isso. Além disso, o facto da indústria e do tecido empresarial manter uma ligação forte com a instituição era uma grande vantagem do ponto de vista de um futuro aluno e candidato a emprego anos depois.
Pode falar-nos um pouco dos seus estudos no Técnico?
Lembro-me que no primeiro ano foi um grande choque, e tive uns tempos a adaptar-me a essa nova realidade de aprendizagem. Durante o curso tive a oportunidade de aprender com professores de topo nas suas áreas de especialização e de colaborar com colegas muito talentosos, que também contribuíram para me tornar um melhor aluno. Mesmo sendo sempre um aluno dedicado, o curso era muito exigente, mas proporcionou-me uma base técnica sólida em engenharia, algo que era o resultado esperado. A carga de trabalho era intensa, mas foi isso que me preparou para enfrentar desafios complexos no mercado de trabalho. Muitas noitadas, muita coisa nova para aprender, alguns tropeções, mas muitos sucessos, e até hoje me lembro de vários desses momentos. Foram muito marcantes.
Qual foi a melhor parte do seu curso? E a mais desafiante?
A melhor parte do curso, diria, foi o ambiente colaborativo (em ambientes mais desafiantes é quando o ser humano mais revela a sua atitude de entreajuda) e a oportunidade de trabalhar em projetos muito práticos, nomeadamente mais para o final do curso, em assunto mais aplicáveis ao mundo empresarial, que me deram uma visão realista do que é trabalhar na minha área. O mais desafiante foi, sem dúvida, conseguir adaptar-me aos primeiros tempos, ao ritmo das aulas, encontrar o balanço certo de horas de estudo versus a carga de trabalho dos trabalhos de grupo, lidar com assuntos teóricos e práticos com os quais nunca tinha tido contacto, aulas com anfiteatros cheios, turmas com colegas sempre diferentes, mas após os primeiros tempos essa experiência tornou-me mais resiliente, metódico e preparado para o mundo profissional.
No Técnico, teve alguma figura inspiradora? Quem e porquê?
Sim, tive alguns professores que foram bastante inspiradores, que nos fazem ficar mais ou menos interessados em certos temas. Um deles foi sem dúvida o Professor Luís M. Correia cuja paixão pela investigação na área das telecomunicações móveis e ensino desse tema era contagiante. Ele não tinha só um conhecimento profundo da área, tinha a visão de estabelecer pontes entre a investigação e as empresas, estava envolvido em inúmeros grupos de investigação, como também incentivava os alunos a pensar de forma crítica (lembro-me de que era um dos grandes defensores de aulas em inglês no IST na altura), algo que sempre me marcou. Acabei por fazer a tese sob a sua orientação e em parceria com a Vodafone.
Pode falar-nos um pouco sobre o início do seu percurso profissional?
O início da minha carreira foi uma fase de transição, em que apliquei o que aprendi no Técnico em contextos reais. No entanto, a transição foi fácil porque tinha feito alguns projetos, ainda durante e com o IST, com os operadores de telecomunicações, o que depois, juntando ao conhecimento de outros projetos e do curso em geral, fui gradualmente adaptando-me às atividades concretas do mundo das Telecomunicações Móveis. Comecei por ter um estágio profissional numa empresa de consultoria de telecomunicações, com a qual depois fui trabalhar numa empresa multinacional (Alcatel-Lucent), onde aprendi muito sobre o mercado e sobre a necessidade de estar sempre a atualizar os conhecimentos. Essa experiência foi crucial para me adaptar rapidamente e crescer na área que tinha estudado (tinha escolhido o ramo de Telecomunicações), e para perceber melhor como era o mundo do trabalho lá fora, pois estive alocado a projetos em vários países (Itália, Grécia, México, França), o que foi preponderante para o meu desenvolvimento como profissional, engenheiro e como pessoa. No fundo, disse ‘Sim’ aos projetos lá fora, onde iria estar fora de pé, mas que foram essenciais para o meu crescimento. Com essa experiência, entrei mais confiante para a Ericsson em Portugal, que também me desafiou com vários projetos de introduções de novas tecnologias em várias geografias (e.g. 3G, 4G); a análise e gestão de dados e analytics era o meu dia a dia, por forma a, por exemplo, otimizar as funcionalidades das redes móveis dos operadores de telecomunicações desses projetos.
Fale-nos um pouco sobre o trabalho que está a desenvolver atualmente.
Atualmente estou a liderar a eikko, uma empresa que fundei durante a pandemia. Sou o Cofundador e CEO da empresa, e tenho sob a minha responsabilidade a área de Data Science e IA. O nosso foco está em transformar, com ciência e tecnologia, a forma como o recrutamento funciona, i.e., a forma como as pessoas encontram emprego e a forma como as empresas encontram os candidatos certos para as suas necessidades. Desenvolvemos uma plataforma de recrutamento inovadora, misturando inteligência artificial, tecnologias inovadoras de engenharia de software e investigação em psicologia organizacional para transformar positivamente a experiência de todos no processo. É nisso onde nos focamos. Estamos quase a chegar a Marte e ainda estamos a adaptar CVs a todos os empregos aos quais nos candidatamos, para depois não obtermos feedback ou qualquer resposta do outro lado? Não haverá outra forma, mais digital, menos frustrante? Queremos que o processo seja o mais fácil, rápido e informado possível. É uma área, a dos Recursos Humanos, que me inspira imenso dado o grande impacto que tem nas vidas das pessoas.
Qual foi a decisão mais difícil que alguma vez teve de tomar?
A decisão mais difícil foi, sem dúvida, quando tive de decidir entre continuar a desenvolver-me numa empresa consolidada ou arriscar em sair para poder inscrever-me noutros mestrados a full time, poder desenvolver mais competências em outras áreas e poder ter a coragem, posteriormente, de me lançar num projeto próprio. No final, decidi seguir a minha paixão e arriscar, o que me trouxe aprendizagens valiosas e crescimento pessoal e profissional.
Como é que entrou na área profissional em que está agora?
Quando decidi sair da empresa onde estava foi para me desafiar, para adquirir mais conhecimento e competências. Inscrevi-me noutros dois mestrados: Gestão de Informação para consolidar os meus conhecimentos em data science, business intelligence, gestão de informação, e um Master in Business Administration para ter a coragem de gerir a minha própria empresa. No caminho, fundei a associação Data Science for Social Good Portugal. Depois deparei-me com o caos que era (e ainda é) o recrutamento em pleno séc. XXI. Procurei emprego e foi uma experiência muito negativa. Estava igual ou pior quando eu tinha procurado emprego pela primeira vez, depois do IST. Depois de muita investigação sobre o tema, decidi que poderia e teria de fazer algo para melhorar o sector. No fundo, entrei pelo mundo dos RH e do recrutamento usando os conhecimentos e experiência que tinha em tecnologia, o interesse em atuar num sector que tem impacto direto na vida das pessoas, usando a minha paixão pela área da psicologia, e depois ter reencontrado o meu ex-colega do IST, o Nuno Moço, ao fim de muitos anos. Só temos uma vida e decidimos arregaçar as mangas e colocar a nossa motivação em ter um impacto positivo na sociedade com o nosso conhecimento e experiência.
Quais têm sido os grandes desafios da sua carreira?
Sem dúvida que tem sido acompanhar o ritmo das inovações tecnológicas e adaptar-me, por conseguinte, a novas exigências do mercado (mais do ponto de vista empresarial). A investigação nas áreas tecnológicas avança a um ritmo alucinante, e o mercado muda muito rapidamente; as competências que se adquirem há uns anos ficam obsoletas ao fim de menos tempo do que antes, o que exige um esforço redobrado para nos mantermos atentos e a adotar uma atitude de aprendizagem contínua. Às vezes parece que estamos constantemente a tentar alcançar algo que está permanentemente a fugir. Além disso, gerir equipas em ambientes de alta pressão, quer em empresas e equipas multinacionais, quer em start-ups com equipas multidisciplinares, é sempre um desafio, mas também é uma das áreas em que mais cresci. Outra coisa que também tem sido desafiante, mais recentemente, é a gestão do novo paradigma do trabalho em equipa remoto vs presencial, sendo que cada pessoa tem a sua maneira própria de trabalhar para ser produtiva.
O que o faz ter orgulho em ser um alumnus do Técnico?
Foi um grande marco na minha vida e carreira. Tenho, de facto, orgulho em ser alumnus do Técnico não só pela reputação internacional da instituição, mas também pelo impacto que os seus ex-alunos têm tido no mundo empresarial e académico. A formação que recebi é ainda muito respeitada em qualquer parte do país e no estrangeiro, e o espírito de inovação e resiliência promovido pelo Técnico é algo que levo comigo para qualquer experiência profissional.
Que conselhos daria aos estudantes atuais?
Aproveitem ao máximo todas as oportunidades de aprendizagem, dentro e, essencialmente, fora da sala de aula. Não temam de perder tempo a explorar os erros, pois são eles que proporcionam os maiores aprendizados. Acima de tudo, cultivem uma mentalidade de aprendizagem contínua, de adaptação, colaboração, flexibilidade e humildade, porque o mundo está em constante evolução e aqueles que se reinventam, que caem e se levantam, serão os que prosperam. Por último, é cada vez mais importante a autoconsciência para se poder estar atento a si próprio, às suas necessidades próprias, à sua voz interior, para seguir o que ela diz em vez de ser abafada pelo imenso ruído que há à nossa volta. A era da informação trouxe muitas vantagens, mas também muitos desafios aos jovens, e por isso é cada vez mais importante ouvir a sua intuição. Eu uso uma questão para me guiar: o que farias amanhã se hoje não tivesses aquele medo de errar?
De que mais se orgulha na sua vida?
Orgulho-me de ter tido a coragem de arriscar em algo que acredito, de não ter cedido ao medo e de me ter desafiado além do limiar do conforto. Não me conformei e tomei uma atitude para evoluir como profissional e como ser humano. Também me orgulho de ter contribuído para o crescimento de projetos que geram impacto positivo na sociedade.
Que conselhos daria aos estudantes do ensino secundário que estão a pensar em estudar STEM, particularmente no Técnico?
Se estás a considerar seguir uma carreira em STEM, especialmente no Técnico, eu diria que estarás a escolher um caminho cheio de desafios - que serão ultrapassados com a atitude certa e sabendo que excelentes colegas estão lá para apoiar - mas também de imensas oportunidades de crescimento pessoal e profissional. Estudar STEM no Técnico é exigente, mas essa dificuldade é o que realmente prepara os alunos para o sucesso. Não te deixes intimidar pela complexidade inicial, porque lá no futuro, esses conhecimentos serão muito valiosos. A curiosidade, resiliência e perseverança serão essenciais - nem tudo será fácil - mas é isto que te diferenciará no futuro. No final irás ver que resolver problemas complexos, e inovar, não será algo distante, inatingível, mas sempre ao teu alcance.
Especialista jurídicoc na Ministério da Economia
3 dParabéns!
Love this