Representantes de governos 198 países estão hoje na COP29, a 29ª conferência de mudanças climáticas das Organização das Nações Unidas (ONU). O encontro ocorre em Baku, no Azerbaijão, até o fim da semana que vem, mas segundo o secretário-geral da ONU, é no Brasil que estarão os líderes capazes de virar o jogo para salvar o clima global.
— Todos os países devem fazer sua parte, e o G20 deve liderar — disse o português António Guterres, em referência ao encontro marcado para a semana que vem no Rio de Janeiro, reunindo chefes de estado das 20 economias mais influentes do planeta. — Eles são os maiores emissores, com as maiores capacidades e responsabilidades. Eles devem reunir seu conhecimento tecnológico, com os países desenvolvidos apoiando as economias emergentes.
Como de costume em todas as conferências do clima, Guterres fez um discurso bastante forte, responsabilizando líderes mundiais pelo atraso em tomar ações concretas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e impedir que o mundo aqueça em média mais de 1,5°C, meta primária estabelecida pelo Acordo de Paris. Como de costume, também, seu pronunciamento não causou grande comoção na plateia de delegados dos países integrantes da convenção do clima da ONU (UNFCCC).
— Na COP28, no ano passado, todos vocês entraram em acordo para se afastar dos combustíveis fósseis e acelerar os sistemas de energia com saldo zero de carbono, definindo marcos para chegar lá, impulsionar a adaptação climática e alinhar a próxima rodada de planos climáticos nacionais para toda a economia, as NDCs, com o limite de 1,5°C — afirmou o secretário-geral da ONU. — É hora de entregar o acordado.
Depois de iniciar seu discurso dizendo que "o relógio está correndo" e que "o tempo não está a nosso favor", Guterres recitou números do último relatório do Programa de Meio Ambiente da ONU (Pnuma) que calculou o tamanho da lacuna entre a quantidade de CO² que o planeta emite e aquela que a ciência diz que pode ser emitida sem que o aquecimento global cruze o limite perigoso.
— Para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, precisamos cortar as emissões globais em 9% a cada ano. Até 2030, elas devem cair 43% em relação aos níveis de 2019. Infelizmente, elas ainda estão crescendo agora — afirmou.
Guterres também fez críticas duras à demora dos países da UNFCCC em fazerem uma menção mais explícita ao problema dos combustíveis fósseis em suas decisões oficiais, pois a necessidade de zerar a produção e emissão de petróleo e gás ainda é feita de maneira pouco incisiva nos textos das COPs. Segundo ele, essa transformação é inescapável, mas fazer com que ela seja adiada pode comprometer os objetivos do Acordo de Paris.
— No ano passado, pela primeira vez, o valor investido em energias verdes e renováveis ultrapassou o valor gasto em combustíveis fósseis. E em quase todos os lugares, a energia solar e eólica são as fontes mais baratas de eletricidade. Então, dobrar a aposta nos combustíveis fósseis é um absurdo — afirmou o secretário-geral. — A revolução da energia limpa está aqui. Nenhum grupo, nenhuma empresa e nenhum governo pode pará-la. Mas vocês podem e deve garantir que ela seja justa e rápida o suficiente para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C.
Guterres também cobrou dos países integrantes da UNFCCC que não deixem Baku sem entrar em acordo sobre uma nova meta de financiamento para ajudar o mundo em desenvolvimento a combater as mudanças climáticas.
— Os mais vulneráveis estão sendo abandonados aos extremos climáticos. A lacuna entre as necessidades de adaptação e o financiamento pode chegar a US$ 359 bilhões (R$ 2 trilhões) por ano até 2030 — afirmou. — Esses dólares perdidos não são abstrações em um balanço: são vidas ceifadas, colheitas perdidas e desenvolvimento negado. Os países desenvolvidos devem correr contra o relógio para dobrar o financiamento da adaptação para pelo menos US$ 40 bilhões (R$ 231,6 bilhões) por ano até 2025.