O ano é 2023 e toda vez que parto para uma viagem solo escuto: "não é deprimente ir sozinha?" ou "deve ser tão solitário não ter com quem dividir os momentos". Isso sem falar das já tradicionais "corajosa, hein?" e "vai sozinha mesmo?". Em pleno século 21, ainda há um preconceito persistente que nos acompanha: a ideia equivocada de que viajar sozinha é sinônimo de solidão. Embora essa percepção seja comum, ela está longe de retratar a realidade das mulheres viajantes que encontram em suas jornadas um caminho para a autodescoberta, o empoderamento e para conexões significativas.
Ao embarcarmos em aventuras solo, nós, mulheres, temos a oportunidade de nos conectarmos de maneira profunda, descobrindo paixões, forças e limites pessoais. Não há solidão e, sim, senso de independência, autoconfiança e liberdade. Nos tornamos protagonistas das nossas próprias histórias. A gente encontra comunidades locais acolhedoras, interage com outros viajantes, compartilha histórias, faz amizades (e até crushes!) que transcendem fronteiras e culturas.
A primeira vez sozinha na estrada pode assustar, foi assim comigo há 15 anos. Estereótipos e visões antiquadas enraizadas em nossa sociedade tendem a dizer: não vá. "O que vão pensar de mim?" Sair da zona de conforto é desafiador: o coração fica acelerado, a boca seca... Eu mal conseguia olhar para as pessoas à minha volta de tanta vergonha no início da minha jornada solo. Mas, de pouquinho em pouquinho, fui cruzando com outras mulheres — também sem companhia — pelos quatro cantos do mundo. Algumas mais novas, outras maduras, todas tinham algo a ensinar sobre liberdade. E, com o passar dos anos, enchi a minha bagagem de conhecimento.
Há de se considerar que solitude e solidão são duas coisas completamente diferentes: é possível estar só e não se sentir sozinha. Assim como você pode estar na companhia de alguém, ou no meio de uma multidão, e se sentir solitária, com aquele sentimento de vazio. Abraçar a solitude em uma viagem é transformador. Você aprende a amar a sua própria companhia e, consequentemente, se abre para novas pessoas entrarem na sua vida.
Certa vez, estava num passeio de barco no Vietnã e uma família norte-americana veio conversar comigo. Em menos de cinco minutos de papo, um deles indagou: "Sozinha por quê?". Respirei fundo e rebati: "E por que não?". Ao meu lado havia um inglês, também em jornada solo. Será que o casal também questionou aquele homem? Adivinha, a verdade é que a figura da mulher sozinha e feliz causa estranheza.
"Abraçar a solitude em uma viagem é transformador"
Romper com esse preconceito é essencial para encorajar e apoiar outras mulheres que escolhem explorar o mundo por conta própria. É uma oportunidade de redefinir a narrativa e destacar os aspectos positivos dessa experiência. Tomar uma cerveja num boteco sozinha durante uma viagem é tão natural quanto jantar acompanhada. Há dois meses, num bar de tapas em Sevilha, na Espanha, sentei na bancada e perguntei ao garçom qual bebida ele me recomendava. Um grupo ao meu lado ouviu minha pergunta e sugeriu: "O vinho da casa"; em pouco tempo, estávamos trocando dicas sobre a cidade. Repita comigo: viajar sozinha não é ficar sozinha. É hora de banir definitivamente velhos clichês. Viagem solo é troca, aprendizado, redescoberta e desapego. Deixe para trás pré-julgamentos, ignore a opinião dos outros e apenas siga em frente. Só você pode te fazer feliz!
7 dicas pra quem vai viajar sozinha pela primeira vez
1 – Escolha destinos próximos ou com boa infraestrutura
Se ainda não se sente segura para longas distâncias, aposte em um destino perto de você ou algum lugar com boa infraestrutura. Faça uma pesquisa nas redes: qual é a melhor época pra ir, como são os costumes, a língua e a cultura local (verifique se existem códigos de vestimentas)? É tranquilo circular à noite? Qual hospital mais próximo em caso de emergência?
2 – Converse com mulheres que já viajaram pra lá
Nem sempre o Google te traz todas as respostas. Entre em contato com pessoas que já visitaram ou moram no destino escolhido (os grupos de Facebook e contas no Instagram e Tik Tok costumam ajudar bastante). Faça perguntas e leia relatos.
3 – Atenção com a hospedagem
Destino escolhido, é hora de fechar um lugar pra dormir. Dê preferência para plataformas mais conhecidas, como por exemplo, Booking e Airbnb. Elas trazem reviews de quem já ficou naquela acomodação. Hostels são boas opções para conhecer outros viajantes e a maioria conta com quartos femininos.
4 – Guarde telefones úteis
Tenha contatos importantes como o da embaixada brasileira, polícia turística, hospitais (não esqueça de fazer o seu seguro viagem!), endereço da sua hospedagem, etc. Além de guardá-los no celular, anote tudo num papel e deixe na carteira.
5 – Baixe mapas para usá-los offline
Entre no Google Maps e clique em Mapas off-line. Ali você busca a cidade que vai ficar e faz download de toda a área (lembre de liberar espaço no smartphone). Outra opção é o aplicativo Maps.me.
6 – Menos é mais
Quanto menos levarmos, mais fácil será transportar a bagagem. Acredite: não há nada mais aliviante do que poder circular apenas com uma mala de mão, ainda mais se você for pegar ônibus, trens, subir e descer escadas...
7 – Envie uma cópia do seu roteiro para a família
Depois de fazer um roteirinho com as principais atrações, deixe uma cópia do arquivo com a sua família e/ou amigos. Inclua ainda números e horários de voos, endereços e telefones de hotéis